Fronteiras organizacionais

Pessoas podem mudar toda a sua forma de perceber o universo num único segundo, sociedades não. A mudança social é um processo longo se comparado à mudança individual. Coletivamente mudamos por reverberação, novas idéias surgem e são “adotadas” pelas pessoas que entram em contato com elas. Cada pessoa que “adota” uma nova idéia faz com que ela se espalhe por sua rede de relacionamento e assim ela pode (ou não) reverberar por toda a estrutura social. Fluxos de novas idéias convivem com fluxos de idéias já conhecidas e atuantes. A sociedade evolui ao longo do tempo através dessa “tensão” entre cultura e contra-cultura. Ela se equilibra no limite do caos, nesse ponto suspenso entre ordem (o conhecido) e caos (o novo). A ordem mantém a existência e o caos leva à evolução. Ambos são necessários e dependentes, não podem ser compreendidos isoladamente.


O velho e o novo sempre convivem numa mesma rede. O “novo” aparece como alternativa e não como substituição do “velho”. Note-se que na sociedade humana moderna convivem, por exemplo, grupos de caça e coleta, agrários, industriais e digitais...


Da mesma forma, organizações são redes de pessoas cuja dinâmica acontece no limite do caos. Fluxos incessantes de informações percorrem a rede e ao mesmo tempo que mantém a estrutura coletiva permitem também adaptação e evolução. Essa percepção pressupõe uma nova maneira de pensar o viver (con-viver) em redes. Nasce como algo novo, portanto como opção. Algumas organizações optarão por adotar os conceitos e as práticas das redes distribuídas, outras não. Um terceiro grupo talvez ache mais confortável um “caminho do meio”. Isso faz parte da dinâmica social.


Para as organizações que têm interesse em adotar esse novo paradigma das redes distribuídas a ARO (Análise de Redes Organizacionais) é uma ferramenta fundamental. A visualização de uma rede desenhada pelas pessoas que a compõem (os softwares apenas traduzem para uma linguagem gráfico/matemática o que foi descrito pelas pessoas que responderam à pesquisa) é sempre muito impactante. A construção conjunta da significação dos resultados já é, em si, um processo de transformação. Há uma ampliação do limite do concebível e novos caminhos de desenvolvimento, antes inconcebíveis, se abrem.


Na rede-mãe (composta por todos os seres humanos) não existem fronteiras de fato, só as que imaginamos que existam. Existe um fluir constante de informações que não pode ser interrompido, nem controlado. Quando falamos em Análise de Redes Organizacionais estamos dizendo que vamos tomar como ponto de partida (foco-rede primária) um pequeno pedaço da rede-mãe (a sociedade) que deve ser compreendido como uma “particularidade relativamente independente” (David Bohm). Cada um de nós, cada organização, vive numa rede expandida,  sem fronteiras.  Fronteiras são ilusões de lógica.


Clara Pelaez Alvarez