Empresas como redes expandidas


Empresas são fenômenos de emergência, emergem da interação entre as pessoas que as compõem. É através do fluxo contínuo de informações que as empresas se estruturam e definem suas identidades. Empresas são entidades abstratas, são redes de pessoas que se juntam com determinado objetivo às quais se convencionou chamar empresas.


Empresas em rede se movem em mercados em rede. Mercados são redes de instituições variadas compostas por pessoas e são estas que se conectam umas às outras. Quando dizemos que duas empresas se relacionam estamos dizendo que pessoas da rede de uma empresa se relacionam com pessoas da rede da outra empresa.


A rede de pessoas que compõem uma empresa é uma “rede primária (grau 1)”. Cada pessoa dessa “rede primária” está também conectada a outras redes: família, amigos, colegas de escola, associações, etc. Estas “redes secundárias (grau 2)” influenciam profundamente as pessoas da rede primária. Há um fluxo contínuo de informações entre a rede primária e as redes secundárias, portanto, há reverberação, re-alimentação, influência mútua.


É discurso comum dizer que a vida particular de uma pessoa não deve interferir na sua vida profissional e vice-versa. Esse discurso não se sustenta na prática. As experiências de uma pessoa são traduzidas em estruturas neurais, em combinações químicas delicadíssimas, em memórias... Está tudo entrelaçado, a prática cartesiana de dividir para compreender: lado profissional, lado afetivo, lado famíla, lado religioso, lado isso, lado aquilo, cria a falsa ilusão de que a junção dos fragmentos leva ao entendimento do todo. Essa lógica é uma senhora de 400 anos de idade! Somos sistemas indivisíveis, imprevisíveis, em constante mutação e não fragmentados, previsíveis e classificáveis. Pessoas da “rede primária” são continuamente influenciadas por suas “redes secundárias” e viceversa.


Quando uma empresa contrata um novo funcionário conecta-se a uma nova “rede secundária”. Há uma “expansão” das fronteiras da “rede primária”. Quando um funcionário deixa a empresa uma “rede secundária” se desconecta: contração de fronteiras. As redes pulsam, se movem no espaço-tempo mudando suas estruturas continuamente.


As “redes secundárias externas (grau 2)” englobam as redes de clientes, parceiros e fornecedores e da mesma forma, influenciam a “rede primária” e vice-versa. Abrir novos mercados é conectar-se a novas redes.


As “redes terciárias (grau 3)”, são redes de grau1 para as “redes secundárias” e redes de grau2 para as “redes primárias”. E assim por diante...


É neste universo de redes expandidas que se dá a dinâmica de uma empresa.


Esta percepção de empresas como redes expandidas que se movem em redes de mercado demanda uma lógica sistêmica na adoção de inovações e de solução das dificuldades, tão recorrentes e universais, que já se pode dizer que são tradicionais: concorrência, qualidade, retenção de talentos, produtividade, processos, lideranças, etc. Todos estes problemas estão entrelaçados e não podem mais ser pensados isoladamente! Empresas em rede são mentes coletivas e da mesma forma que não é possível separar um ser humano em partes, tampouco é possível pensar uma mente coletiva fragmentadamente.


Empresas em rede são sistemas complexos adaptativos que demandam soluções sistêmicas, entrelaçadas e únicas. Não se encontra um cérebro humano igual a outro, nem uma mente coletiva igual a outra. A solução que funciona bem para uma certamente não funcionará da mesma forma para outra. Na sociedade em rede não há mais espaço para soluções em série, fragmentadas e empacotadas. Essa idéia de redes expandidas é aplicável a qualquer tipo de organização, instituição, associação, ou o que quer que chamemos a uma rede de pessoas conectadas com um objetivo em comum.


Clara Pelaez Alvarez