Somos uma sociedade de oito bilhões de seres humanos, todos conectados através do fluxo de informações. Essa é a rede-mãe. A sociedade humana emerge da interação entre os indivíduos e, por sua vez, também influencia essa interação. Vivemos num enorme emaranhado social, em constante fluxo de informações. Pinçamos informações do fluxo as transformamos em conhecimento e esse conhecimento volta novamente para o fluxo como informação. É a partir desse mecanismo, conceitualmente bem simples, que criamos as realidades individuais e coletivas que conformam a complexidade social.
Todos nós, sem exceção, estamos conectados à rede-mãe. Para isso só é necessária a conexão com, ao menos, uma outra pessoa. Geralmente cada um de nós se conecta a muitas sub redes, tais como: as pessoas da nossa família, os amigos, a turma da escola, o pessoal do clube, as pessoas com as quais trabalhamos, ou outras. A conexão é estabelecida com a troca de informações.
Fontes de informação são sempre pessoas. O que torna a sociedade moderna tão especial é que as informações estão disponíveis a todos, graças às tecnologias de informação e comunicação que derrubaram as barreiras de espaço e nos permitem a conexão com qualquer pessoa, ou com as ideias de qualquer pessoa, em qualquer ponto do planeta. No entanto, é muito importante não confundir fontes de informação com os meios pelos quais elas circulam (mídias sociais, e-mails, celulares, web, livros ou outras). Vivemos um fenômeno sociológico sem precedentes na história humana e que está redefinindo profundamente as relações sociais.
Observe-se que ao longo da história humana o controle da informação foi exercido por redes de indivíduos que detinham o poder, notadamente governos utilizando meios de comunicação de massa. Era possível criar narrativas relativamente uniformes e, ainda que sempre houvessem contra narrativas, estas tinham pouco espaço para serem ouvidas. O controle social sempre foi exercido por poucos sobre muitos, até o advento da sociedade digital onde as narrativas não são mais uniformes e as ideias dissidentes circulam como quaisquer outras. Hoje todas as pessoas conseguem encontrar suas tribos e conectar-se às sub redes que escolhem. Estamos todos muito informados e extremamente empoderados, mesmo que a sociedade completamente conectada ainda esteja em processo de assimilação e acomodação.
Na rede-mãe enormes quantidades de narrativas surgem e desaparecem. Uma narrativa bem sucedida é aquela que consegue se tornar uma verdade socialmente aceita. Isso ocorre quando há reverberação social e a narrativa consegue uma grande adesão de pessoas que a entendem como verdade.
Analisar a rede-mãe como um todo é impossível, ainda não temos tecnologia que suporte uma rede dessa magnitude. Porém, podemos analisar o funcionamento de pequenos espaços na rede-mãe: o fluxo de informações em sub redes. É como se pegássemos uma lente de aumento e a direcionássemos para uma determinada região de rede-mãe para entender como funciona. Isso se chama “análise de redes de relacionamento”. Vamos supor que queiramos analisar a estrutura e a dinâmica de uma organização chamada “Dias Verdes” que tem 200 colaboradores. Essa sub rede é, para efeitos de análise, entendida como uma sub rede primária de duzentas pessoas. Mas, como vivemos num continuum social, ou seja, todas essas pessoas estão conectadas a mais sub redes além dessa, temos que considerar também as sub redes que estão conectadas à rede primária. As sub redes secundárias conformam os clientes, fornecedores e parceiros da sub rede primária, bem como as sub redes particulares de cada uma das duzentas pessoas que fazem parte da sub rede primária. As sub redes terciárias são as que estão conectadas às sub redes secundárias, e assim por diante. Importante notar que não existem sub redes isoladas. Todas estão profundamente emaranhadas na rede-mãe. Isso é o continuum social. Portanto, as conclusões sobre a dinâmica das sub redes sempre devem considerar o continuum social.
Qualquer organização, ou coletivo humano é uma sub rede expandida e as fronteiras organizacionais são sempre porosas. “Lá fora” e “aqui dentro” são ilusões de lógica quando se pensa em termos de redes. Mercados também são pessoas em sub redes e estão sempre emaranhados nas sub redes primárias, secundárias e terciárias de qualquer organização, ou seja, o mercado não é algo que existe “lá fora”. Em termos práticos isso se traduz na forma como as organizações organizam as relações em redes. Por exemplo, atualmente um departamento de marketing e/ou vendas (uma sub rede dentro da rede primária) tem que considerar os prosumers, aqueles clientes que amam a marca da empresa, como uma extensão do grupo. E, além disso, cada uma das pessoas que trabalha numa organização tem sub redes secundárias que também podem ser consideradas extensões de mercado nos quais atuam marketing e vendas. Essa percepção do emaranhado social e da porosidade organizacional muda bastante as estratégias de abordagem de mercado neste novo ciclo de geração de riquezas.
Clara Pelaez Alvarez, 22 de fevereiro 2024