O estresse tem acompanhado a humanidade desde sempre, mas suas causas mudaram muito com o tempo. Aqui vai um panorama histórico das principais fontes de estresse ao longo da evolução humana:
Pré-História (caçadores-coletores)
O estresse era físico e imediato, ativando o instinto de sobrevivência (famoso “lutar ou fugir”): fuga de predadores, fome e escassez de alimentos, clima extremo, conflitos com outras tribos.
Antiguidade (civilizações agrícolas e impérios)
O estresse se torna mais sistêmico e social, com desigualdades marcando a vida das pessoas: guerras e invasões, escravidão e servidão, doenças sem tratamento, castas sociais rígidas, trabalho forçado em campos ou obras públicas.
Idade Média
Um tempo de instabilidade, onde o medo da morte e da punição divina gerava constante ansiedade: guerras religiosas e cruzadas, fome generalizada, epidemias (ex: Peste Negra), insegurança jurídica e social, submissão à nobreza ou à Igreja.
Revolução Industrial (século XVIII–XIX)
Aqui surge o estresse ligado ao trabalho, com os primeiros sinais do que chamamos hoje de burnout: jornadas de trabalho exaustivas, ambientes insalubres nas fábricas, urbanização caótica, desligamento da terra e da vida rural, trabalho infantil.
Século XX – Era moderna
Começa-se a estudar o estresse psicossocial. Hans Selye, por exemplo, define o conceito médico de estresse na década de 1930: guerras mundiais, crises econômicas (ex: 1929, 1973), pressão por produtividade, estresse urbano, mudança nos papéis sociais (ex: mulheres no mercado de trabalho).
Século XXI – Era digital
Hoje vivemos um estresse crônico e mental, muitas vezes invisível, com impactos profundos na saúde física e emocional: sobrecarga de informação (infodemia), conectividade constante (WhatsApp, e-mails, mídias sociais), cultura da performance e da comparação (culto à produtividade, métricas, KPI´s, “people analytics”), insegurança no trabalho (“gig economy”, crises econômicas, demissões em massa), insegurança econômica, inflação, pandemias, colapsos ambientais, IA…
Criamos inclusive novas nomenclaturas para o estresse:
“Burnout”: esgotamento emocional e físico causado por estresse crônico no trabalho provocando exaustão constante e redução na eficiência.
“Quiet Quitting”: fazer apenas o mínimo exigido sem se esforçar além do necessário provocando falta de reconhecimento e cansaço mental.
“Quiet Cracking”: Falta de motivação persistente levando ao desejo de deixar o emprego provocando desânimo e sentimento de isolamento.
Ou seja, saímos do estresse eventual para um estresse crônico. Os avanços que tanto nos ajudaram a facilitar a vida no dia a dia, também nos levaram a um aumento de estresse que é brutal. Enquanto nossos ancestrais paleolíticos conseguiam voltar ao normal depois de um pico de estresse, nós que vivemos agora temos um estresse constante o que significa que nosso corpo está constantemente inundado de adrenalina, cortisol e noradrenalina, os principais hormônios do estresse. Isso pode desencadear crises de ansiedade, crises depressivas e síndrome do pânico, além de ganho de peso, alterações de humor, enfraquecimento dos ossos, aumento do risco de infecções, acúmulo de gordura abdominal, distúrbios gástricos, como gastrite, refluxo, colites e riscos maiores de doenças cardiovasculares, pressão alta, diabetes, etc. Todos problemas de saúde “normais” do nosso tempo.
Que sociedade estamos criando? Isso é sustentável? Podemos pagar esse preço?
Na sociedade atual o estresse no trabalho é o que mais nos deixa doentes e eventualmente nos mata. Isso vem acontecendo desde a revolução industrial. Dá para entender muito bem porque as novas gerações estão se rebelando contra isso. O problema não são eles, e sim o “mindset” gerencial que não está funcionando e talvez nunca tenha funcionado a não ser para que alguns ganhem muito dinheiro (embora também percam a saúde no caminho) deixando o resto da sociedade doente. É essa a sociedade que queremos?
Trabalhar muito, ganhar muito (se você conseguir) e morrer de infarto mais adiante. Faz sentido para você? É por isso que estamos vivos?