Na percepção das redes, tragédia é o rearranjo abrupto da estrutura social, às vezes também acompanhado do desaparecimento repentino de artefatos usados na vida em sociedade. Isso é bem visível nos eventos do Rio Grande do Sul. Os artefatos podem ser reconstruídos/recriados pois são um efeito emergente da rede social, pessoas interagindo criam todos os artefatos que constituem nosso mundo social. Mas, a dor ocasionada nos seres humanos ao vivenciarem uma ruptura repentina de vínculos fortes é sempre traumática para a nossa espécie. Vínculos fortes são aqueles que temos com nossas famílias, amigos, companheiros de trabalho, ou seja, pessoas com as quais interagimos no dia a dia.
Por outro lado, para enfrentar a situação social trágica, nos valemos dos vínculos fracos e de novos vínculos sociais criados no processo. Vínculos fracos são aqueles que temos com pessoas que conhecemos pouco e com as quais interagimos eventualmente. Existem estudos (Mark Granovetter, The Strength of Weak Ties, 1973) na ciência das redes que demonstram que são eles que funcionam bem numa situação de tragédia. E também, novos vínculos são criados na medida em que interagimos com outras pessoas no processo caótico criado por um evento trágico. A rede social se rearranja e se articula para enfrentar o que quer que seja.
Nodos-ponte, pessoas que se conectam a grupos diferentes, são super importantes na estrutura das redes, principalmente em situações de tragédia. Os “tecelões de redes” (netweavers) articulando relações em momentos de alto stress são essenciais para a regeneração do tecido social e para a superação social da tragédia.
No entanto, no nosso mundo densamente conectado, um “netweaver” tanto pode funcionar como um bálsamo espalhando informações que ajudem a todos, ou como um amplificador de desinformação, ou das duas formas de maneira não intencional. De maneira geral, o papel dos netweavers numa tragédia é complexo e multifacetado: a influência deles pode moldar percepções, comportamentos e respostas no processo de vivenciar a tragédia. Quanto mais o poder público entender da dinâmica das redes mais capaz ele será de gerenciar toda a complexidade social que emerge nessas situações