O que é, ou qual é a estrutura da realidade? Qual a diferença entre realidade e ilusão? É possível mudar o mundo apenas mudando nossa percepção sobre ele? Existem diferentes níveis de realidade? Qual a participação do observador na estruturação do mundo material?

Existem abordagens diferentes para responder a estas perguntas: sob o ponto de vista da neurociência, da filosofia, da física quântica, da ciência da cognição, etc. Essa diversidade de enfoques é extremamente necessária e reveladora. Cada uma contribui com aspectos relevantes na busca de respostas para essas perguntas.

Na filosofia, a definição de realidade pode variar dependendo da escola de pensamento. No entanto, de maneira geral, a realidade é frequentemente considerada como tudo o que existe independentemente da mente humana. Abaixo algumas das várias perspectivas filosóficas sobre a natureza da realidade. Cada uma oferece uma maneira única de entender o que é real e como podemos compreender e interagir com o mundo ao nosso redor.

Realismo: sustenta que a realidade existe objetivamente, independentemente de qualquer observador. Segundo essa visão, as coisas e eventos no universo têm uma existência real e existem independentemente de serem percebidos por seres humanos.

Idealismo: argumenta que a realidade é fundamentalmente mental ou espiritual. De acordo com essa perspectiva, a realidade é percebida através da mente ou da consciência e, portanto, é dependente da mente para existir.

Materialismo: postula que a realidade consiste em matéria e energia, e que todas as coisas, incluindo mentes e ideias, podem ser reduzidas a componentes materiais ou físicos. Nessa visão, a realidade é composta por entidades físicas e suas interações.

Fenomenologia: se concentra na experiência consciente da realidade, explorando como os fenômenos aparecem para a consciência humana. Segundo essa abordagem, a realidade é entendida através da experiência subjetiva e da consciência do sujeito.

Existencialismo: enfatiza a liberdade individual e a responsabilidade na criação da própria realidade. Para os existencialistas, a realidade é moldada pela escolha e pela ação humanas, e a existência precede a essência.

A definição de realidade segundo a neurociência pode ser entendida como a experiência subjetiva construída pelo cérebro com base nas informações sensoriais e nos processos neurais que ocorrem dentro dele.

A neurociência sugere que a realidade não é uma entidade estática e objetiva, mas sim uma construção ativa do cérebro com base nas informações sensoriais que recebe do ambiente. O cérebro interpreta e organiza essas informações para criar uma representação interna do mundo ao nosso redor.

A percepção da realidade é mediada pelos sentidos, como visão, audição, tato, olfato e paladar. O cérebro integra essas informações sensoriais para formar uma imagem unificada e coerente da realidade. No entanto, essas representações sensoriais podem ser influenciadas por fatores como atenção, memória e expectativas.

A neurociência reconhece que a experiência da realidade é subjetiva e variável entre indivíduos. A mesma informação sensorial pode ser interpretada de maneiras diferentes por diferentes pessoas, com base em seus contextos pessoais, crenças e experiências passadas.

A capacidade do cérebro de se adaptar e mudar ao longo do tempo, conhecida como plasticidade neural, é fundamental para nossa percepção da realidade. A plasticidade neural permite que o cérebro se adapte a novas informações e experiências, moldando continuamente nossa compreensão e interpretação do mundo ao nosso redor.

Em síntese, a realidade segundo a neurociência é uma construção dinâmica e subjetiva do cérebro, baseada em processos sensoriais, neurais e cognitivos que moldam nossa experiência do mundo.

A perspectiva da ciência cognitiva sobre a realidade enfoca como a mente humana constrói e interpreta a realidade com base em processos cognitivos, perceptuais e sociais. Aqui estão algumas considerações sobre a realidade segundo a cognição:

Construtivismo Cognitivo: O construtivismo cognitivo sugere que a realidade é construída ativamente pela mente humana com base em informações sensoriais, memórias, crenças e expectativas. Em vez de uma representação direta e objetiva da realidade externa, nossa percepção é influenciada pela interpretação subjetiva dessas informações.

Esquemas Cognitivos: Os esquemas cognitivos são estruturas mentais que organizam e interpretam informações. Eles moldam nossa percepção da realidade, influenciando como entendemos e respondemos ao mundo ao nosso redor. Esses esquemas são construídos ao longo da vida com base em experiências passadas e cultura.

Percepção Seletiva: A percepção seletiva refere-se à tendência do cérebro humano de filtrar e interpretar seletivamente informações sensoriais de acordo com nossas crenças, interesses e motivações. Isso pode levar a distorções na percepção da realidade, onde tendemos a notar e lembrar informações que confirmam nossas expectativas preexistentes.

Interação Social: A realidade também é moldada por interações sociais e culturais. Normas, valores e sistemas de crenças compartilhados por um grupo influenciam a percepção e interpretação da realidade pelos indivíduos dentro desse grupo. A linguagem e a comunicação desempenham um papel crucial na construção compartilhada da realidade social.

Consciência e Metacognição: A consciência e a metacognição permitem que os indivíduos reflitam sobre seus próprios processos cognitivos e avaliem a validade de suas percepções e crenças. Essa capacidade de autorreflexão pode influenciar a maneira como interpretamos e compreendemos a realidade.

Em resumo, a ciência cognitiva sugere que a realidade é construída pela mente humana através de processos cognitivos complexos e interações sociais. Nossa percepção da realidade é moldada por nossas experiências passadas, esquemas mentais, interações sociais e tendências perceptuais, resultando em uma visão subjetiva e construída da realidade.

A física quântica desafia nossas concepções tradicionais de realidade, introduzindo ideias como superposição, entrelaçamento e indeterminismo. Essas perspectivas oferecem uma visão intrigante e complexa do mundo em níveis fundamentais.

Colapso da função de onda: Um dos princípios fundamentais da física quântica é a dualidade onda-partícula, que sugere que partículas subatômicas, como elétrons e fótons, podem exibir propriedades de partículas e ondas em diferentes situações experimentais. Isso significa que a natureza fundamental da matéria é mais fluida e difusa do que pensávamos anteriormente.

Indeterminismo: A física quântica introduz o conceito de indeterminismo, sugerindo que certos fenômenos quânticos, como o decaimento radioativo e a posição de partículas subatômicas, são intrinsecamente imprevisíveis. Isso contrasta com a visão determinista clássica do mundo, onde todas as causas têm efeitos previsíveis.

Princípio da Incerteza de Heisenberg: Uma das consequências mais famosas da física quântica é o princípio da incerteza de Heisenberg, que afirma que é impossível conhecer com precisão simultaneamente a posição e o momento de uma partícula subatômica. Isso implica que existe um limite fundamental para o conhecimento que podemos ter sobre o mundo físico.

Entrelaçamento Quântico: é um fenômeno no qual as propriedades de duas partículas estão intrinsecamente ligadas, mesmo que estejam separadas por grandes distâncias. Isso sugere uma forma de conexão instantânea entre as partículas, desafiando nossa compreensão tradicional de espaço e tempo.

Conclusão

A realidade é inferida pelo cérebro que, por sua vez, está encerrado em uma caixa craniana selada sem nenhum contato com  realidade que cria. E, ainda assim, vivemos realidades cheias de cores, formas, texturas, dores e amores.

O que todas essas interpretações de realidade têm em comum é que vivemos continuamente com probabilidades de realidades que são materializadas pela interpretação do observador.

E o que a vivência organizacional tem a ver com a estrutura da realidade? Cada um vive e entende a vida organizacional em função de seu próprio contexto. Encontrar terrenos em comum onde as percepções de todos possam contribuir para uma realidade compartilhada é, no fim das contas, o grande desafio das organizações, não importa por qual perspectiva se olhe.

Nossas mentes estão entrelaçadas. Construir o futuro e materializar o que queremos tem a ver com a habilidade da mente coletiva organizacional de operar em sincronia uns com os outros.