Organizações: entre a conformidade e a rebeldia

A existência de qualquer sistema complexo adaptativo (SCA), sistema que produz ordem, depende da sua capacidade de equilibrar estabilidade e mudança. Isso é conhecido como o limite do caos, um ponto suspenso entre ordem e caos. Nesse ponto o sistema tem a máxima capacidade de processamento de informações e a máxima capacidade de adaptação.

Qualquer organização humana é um SCA e tem sempre o seu melhor desempenho no limite do caos. Isso significa que a organização está num processo contínuo de equilíbrio entre estabilidade e mudança. A estabilidade tem a ver com todos os pressupostos, regras implícitas e explícitas, aos quais todos os participantes da organização estão sujeitos. Em termos de redes, a estabilidade se encontra no núcleo da rede, que é composto pelas pessoas que se conectam, com muita frequência, no dia a dia da organização.

Estabilidade pressupõe conformidade, que é um postulado da psicologia social. As pessoas que se conformam obtêm um reforço social, um benefício em termos de consideração pelo fato de seguir regras e pressupostos socialmente aceitos. Isso geralmente se traduz, dentre outras coisas, em novas oportunidades e no reconhecimento social do trabalho que a pessoa desenvolve, quando consideramos redes organizacionais.

Em termos de gestão a dinâmica da conformidade é essencial em muitos aspectos:

  1. Na gestão de riscos e na reputação: A conformidade eficaz é uma extensão natural da gestão de riscos. Não cumprir regulamentos pode resultar em multas substanciais, litígios onerosos e danos irreparáveis à reputação da empresa. É importante dar atenção aos riscos associados à não conformidade e adotar uma abordagem proativa na mitigação desses riscos.
  2. Cultura organizacional: A conformidade não é apenas uma questão de seguir regras; é também sobre criar uma cultura organizacional que valorize a integridade e o comportamento ético.
  3. Inovação responsável: A conformidade não deve ser vista como um obstáculo à inovação, mas sim como um catalisador para o desenvolvimento responsável de produtos e serviços. É importante impulsionar a inovação ao integrar considerações de conformidade desde as fases iniciais de desenvolvimento, garantindo que os novos produtos e processos atendam aos mais altos padrões éticos e regulatórios.
  4. Adaptação constante: A dinâmica da conformidade deve estar em constante evolução, com novos regulamentos sendo introduzidos e as exigências existentes sendo atualizadas regularmente. É importante a organização estar preparada para se adaptar a mudanças e garantir que esteja sempre em conformidade com as últimas exigências legais e regulatórias.

Tão importante como a conformidade é a rebeldia. A conformidade constrói uma base sólida para o desenvolvimento da organização, mas sem a rebeldia as organizações se cristalizam e deixam de existir.

Há várias maneiras de perceber a rebeldia numa organização:

  1. Inovação e criatividade: A rebeldia pode ser um impulsionador poderoso da inovação e da criatividade. Funcionários que desafiam o status quo e questionam as normas estabelecidas muitas vezes trazem novas perspectivas e ideias disruptivas para a mesa. Essa rebeldia construtiva pode levar a soluções inovadoras e à criação de vantagens competitivas para a organização.
  2. Aprendizado e desenvolvimento: Aqueles que desafiam as práticas existentes muitas vezes estão buscando constantemente aprender e crescer. Essa mentalidade de rebeldia pode estimular um ambiente de aprendizado contínuo dentro da organização, onde os funcionários se sentem encorajados a buscar novas habilidades e conhecimentos para enfrentar desafios e oportunidades emergentes.
  3. Resistência saudável: A rebeldia pode desempenhar um papel importante na identificação e correção de problemas dentro da organização. Funcionários que questionam as práticas existentes podem ajudar a expor lacunas ou falhas nos processos internos, levando a melhorias e a uma maior eficiência operacional.
  4. Desafio da conformidade: Em algumas circunstâncias, a rebeldia pode ser necessária para desafiar práticas ou políticas que são moralmente questionáveis, antiéticas ou prejudiciais para os funcionários ou partes interessadas da empresa. Nesses casos, a rebeldia pode ser uma força positiva para promover a responsabilidade e a integridade organizacional.

Em suma, uma organização bem sucedida opera sempre no limite do caos equilibrando estabilidade e mudança. Note-se que muitos erros crassos cometidos por empresas acontecem porque existe um desequilíbrio entre a conformidade e a rebeldia. Líderes que esperam apenas conformidade sem dar espaço para a rebeldia desestabilizam a organização ao longo do tempo levando-a à cristalização. Empresas cristalizadas não conseguem operar num ambiente sempre turbulento e em mutação constante.