As leis da sincronia

Segundo o dicionário brasileiro de língua portuguesa, Michaelis, sincronia é:

1-ação ou efeito de sincronizar;

2- Ocorrência de dois ou mais fatos ou fenômenos (atuais ou passados) simultâneos; coexistência, concomitância, simultaneidade.

A sincronia tem sido observada em muitas situações na natureza: na estridulação dos grilos, em mulheres que convivem juntas cujas menstruações se sincronizam, em gafanhotos prestes a entrar em swarming, nas órbitas dos satélites e dos elétrons, em sistemas de osciladores acoplados, etc. Existe ordem por todos os lados. Já presenciaram uma onda num estádio de futebol? Sem nenhum comando central milhares de pessoas entram no movimento em sincronia umas com as outras e espontaneamente. Diz o neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis (1) que os cérebros de todos estão sincronizados, ou seja, as mesmas áreas dos cérebros estão ativas.

A sincronia em organismos vivos, quer sejam cardumes de peixes, bandos de pássaros voando, lobos caçando ou seres humanos atuando coletivamente em organizações, está sujeita a três leis (2) aplicáveis a todos os indivíduos:

  1. Todos os indivíduos são atraídos uns para os outros:

Humanos são seres sociais. A maioria de nós vive agrupada. A solidão é vista como algo doloroso por uma boa parte das pessoas. Certamente existem pessoas com hábitos solitários, com dificuldades de alinhamento social, mas essas pessoas geralmente não são socialmente consideradas e raramente encontram oportunidades sociais. Para usufruir da vida em sociedade há um mandamento: conecte-se a outras pessoas, ou seja esquecido. Quanto mais densa for sua teia relacional mais oportunidades tendem a aparecer.

2. Todos os indivíduos estão conscientes apenas dos indivíduos mais próximos:

Vivemos numa sociedade de bilhões de pessoas todas conectadas em emaranhados sociais, no entanto, temos consciência apenas das pessoas que estão conectadas à nossa rede primária (família, amigos, companheiros de trabalho, etc). Costuma ser um hábito de linguagem dizer que: “todo mundo sabe disso” ou “todo mundo faz isso, ou aquilo” ou “todo mundo é assim ou assado”. Quando dizemos “todo mundo” estamos nos referindo apenas às pessoas conectadas à nossa rede primária, talvez redes secundárias e terciárias, também, mas é só.

3. Todos os indivíduos têm a tendência de se alinhar:

Observamos o ambiente no qual estamos e alinhamos nosso comportamento às pessoas que convivem conosco nesse ambiente. Se trabalhamos numa empresa formal e todos usam terno e gravata vamos também usar a mesma indumentária, pois ninguém quer correr o risco de não ser aceito. Em uma empresa informal vamos usar camiseta e calça jeans, pois ficaria muito esquisito aparecer com um traje mais formal. Na verdade, o simples ato de sair vestido de casa para as rotinas sociais já é um alinhamento. A moda é um ótimo exemplo de sincronia: uma boa parte das pessoas se alinha com os ditames da moda para não parecer antiquado ou estranho. E se alguém aparece com uma roupa muito diferente do que é normal em determinado grupo vai chamar muita atenção. Essa situação costuma ser muito desconfortável e constrangedora para a maioria dos humanos. Muda o cenário, as roupas mudam. Usei roupas como exemplo, mas o alinhamento pode ser muito mais profundo envolvendo crenças, gostos, coisas que queremos na vida, situações de mágoa ou de alegria, etc. O alinhamento social é o que aprendemos desde que nascemos nas nossas redes mais próximas. Alinhamo-nos porque fundamentalmente queremos ser aceitos.

Segundo Strogatz a “ordem é inevitável”. Em oposição à teoria do caos, a sincronia é a teoria da ordem.

Referências

Referências

(1) O verdadeiro criador de tudo: Como o cérebro humano esculpiu o universo como nós o conhecemos, Miguel Nicolelis, 2020, livro, Editora Crítica.

(2) Sync: how order emerges from chaos in the universe, nature and daily life, Steven Strogatz, 2004, livro, Hyperion- Acquired Assets; Reprint edition.